Na última sexta-feira, chegou à Netflix uma série italiana que tem sido acusada de glamorizar o tráfico sexual de adolescentes, Baby. A trama, que é baseada no escândalo “baby squillo”, que envolveu Mauro Floriani, em um esquema de prostituição de menores, em 2014, mostra um grupo de adolescentes de classe média que busca desafiar a sociedade e independência de um mundo de aparências. Essa busca acontece de uma forma tão extrema que Ludovica e Chiara, duas adolescentes, acabam se prostituindo em troca de fugir um pouco da realidade dura, resolver problemas financeiros e por pouquinho de poder. Mas é óbvio que tudo isso tem um custo muito alto.
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Independente dos problemas sobre fazer apologia ou não, a série é muito bem estruturada, instiga o público a assistir até o final, os episódios crescem a longo da temporada e constroem muito bem a história de cada personagem. O primeiro erro da produção, talvez seja colocar Chiara como protagonista e não Ludovica, mesmo que seja óbvio o objetivo de colocar Chiara em primeiro plano para ter a vida transformada pelas confusões da “Franjinha” (que está igualzinha a Mia Wallace, de Pulp Fiction). Ela tem muito mais história substancial e prende mais o telespectador do que Chiara que, no fundo, parece ter só o famoso White People Problems e não convence tanto.
Assim como Ludovica, Damiano também é muito empático. Além de Riccardo Mandolini trazer uma atuação muito boa, a história do personagem envolvem problemas mais reais, como xenofobia, problema muito raro de ser abordado em séries europeias e também voltadas para o público mais adolescente. Além de ser aquele Bad Boy de coração mole que todxs resolvem babar na série.
Agora, a pergunta que todo mundo gostaria de saber: Baby realmente faz apologia a prostituição?
Como toda produção que tem como objetivo mostrar a realidade, a série ostenta sim o lado bom de conseguir muito dinheiro se envolvendo em prostituição. Porém, esse falso glamour é justamente colado para também expor as consequências horríveis que isso traz, como abuso sexual e psicológico. É muito irreal acusar Baby de fazer qualquer apologia quando as duas meninas mais choram e se ferram do que qualquer outra vitória.
Além disso, também podem ter acusado pela trama ter acabado de uma forma muito positiva, mas isso também é óbvio, né? Se logo no inicio as personagens se ferrassem ao ponto de se arrepender, não teria como ter uma segunda temporada boa. Elas ainda precisam passar por muitos maus bocados para chegar ao ponto de explorar mais as consequências horríveis que esse caminho leva.
Agora, se realmente existe um problema social na série é que há pouquíssima diversidade, mesmo tendo um personagem gay, não há personagens principais negros e nem secundários ou, se quer, figuração. A série é extremamente branca e só não cai no 100% White People Problems da galerinha de classe média porque Damiano quebra um pouco desses paradigmas, principalmente quando sofre xenofobia por ser imigrante.
De qualquer forma, Baby é uma série com uma boa história, personagens interessantes e bem desenvolvidos, uma narrativa empolgante, uma trilha sonora sedutora e uma fotografia melhor que muitas produções do serviço de Streaming. Se teremos uma segunda temporada ou não, fica a dúvida no ar, mas de qualquer forma, esperamos ver Ludovica, Chiara e Damiano percebendo a furada que entraram.